Um bolo só

Esses últimos dias têm sido muito confusos no que diz respeito a sentimentos e linha de pensamento. O engraçado é que ao mesmo tempo que estão confusos, estão muito esclarecedores. Diz a minha terapeuta que é pelo fato do tratamento estar fazendo efeito. É necessário revirar muita coisa no baú do coração. E ao mesmo tempo que trazemos à tona histórias que estavam lacradas, a vida não para e novas histórias são entulhadas neste mesmo baú, se misturando com as velhas moradoras.
Gostaria muito de ser o Raul, com um baú recheado de obras valiosas, cheio de talento. Sinto comigo um movimento contrário: cada vez que reviro mais as coisas, vejo e revejo minhas atitudes antigas ou as que estão no meu automático, me sinto menos cheia de valor. Mas ok! Se não tenho o talento, vamos tentar ganhar pela técnica, não é verdade?!
E sinto que ainda tenho muito o que treinar, mas que de dia para dia eu estou mais à vontade com as ferramentas do bom viver, do bem lidar com situações complexas. E me dá um orgulhinho. Não vou mentir.
Para vocês terem uma idéia de como venho lutando comigo mesma, vou contar uma das histórias que movimentaram meu coração por estes dias.
No dia 28 de Junho seria aniversário do meu pai. Uma data complicada pra mim desde o seu falecimento. No entanto, uma noticia recebida na noite do dia 27 trouxe um refresco ao meu coração: meu pai seria homenageado com seu nome titulando a rua onde cresci. Lindo não? Realmente meu pai era super merecedor. Mas confesso que as 24 horas que se passaram desde a notícia eu tive uma luta interna imeeeensa. Os motivos, listados abaixo:
1- Fui avisada na noite anterior. E não é que tenha sido decidido há poucos dias. Uma semana antes minha mãe (que desconhecia a homenagem) comentou que teria a reunião na rua para decidir o nome do condomínio e que ela levaria um bolo.
2- Quando minha mãe comentou sobre a reunião a minha reação foi ficar indignada já que a rua em que ela vive não é um condomínio regulamentado e a intenção é dar um nome sem regulamentar. Fato que apenas traria mais status de condomínio às casas. Muitos vizinhos de anos da minha mãe estão vendendo suas casas e valorizar a rua sempre é interessante nestas horas.
3 – Meu pai, o homenageado, pensava como eu. Logo, o nome dele está sendo usado para uma coisa da qual ele era contra.
4- O movimento partiu de uma vizinha da minha mãe com a qual tenho meus problemas. Já tivemos situações familiares na qual ela se intrometeu querendo que valesse a vontade dela e isso gerou uma briga. A homenagem ao meu pai não somente foi uma idéia dela, mas uma imposição dela, na posição até então de síndica, com a justificativa de que um ano antes passou uma circular pedindo sugestão de nomes para o condomínio e ninguém respondeu. “Já que ninguém respondeu, vai ser o que eu quero”, disse ela ao me avisar do evento. Só que a dona vizinha esqueceu que pessoas podem não ter sugerido nomes por não concordar com o assunto. E bem… com a atitude, além dela confirmar o que penso sobre ela e suas atitudes, colocou o nome do meu pai em uma posição estranha, na qual poderia ter pessoas contra.

Por sorte, meu pai era digno da homenagem. Não só os antigos vizinhos aprovaram como se emocionaram com a idéia. A reunião contou com a presença de “funcionários” da rua, ex-vizinhos… Todos deram seu depoimento. Menos a minha irmã que por ter sido avisada em cima da hora não pode comparecer.

Enfim, passei o dia dividida entre a alegria e o orgulho de ser filha do meu pai, e a tristeza e a raiva de conhecer a dona vizinha. Só que diferente do que costuma ser, o sentimento que prevaleceu foi o primeiro. Consegui ao final do dia focar na homenagem e curti-la como deveria ser. E se no meu baú não tem nenhuma obra-prima de minha autoria da qual me orgulhe (fora a minha gorda) eu tenho as do meu pai, um homem que tinha muitos defeitos, que cometei muitíssimos erros, mas que soube dar a volta por cima e mudar muitas coisas na sua vida.

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Uma resposta para Um bolo só

  1. Juliana disse:

    Oi, querida! Fiquei toda emocionadinha aqui também! Entendo e concordo com todas as ressalvas, mas fico muito feliz de saber que prevaleceu o que deve prevalecer: a homenagem e os bons sentimentos. Seu pai realmente merece muito! um beijo enorme!

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